segunda-feira, 20 de junho de 2011

A riqueza de Lya Luft





Do mais novo livro da fabulosa Lya Luft, "A riqueza do mundo" pelo Grupo Editorial Record. 

Refúgio humano para os refugiados


Hoje é Dia Mundial dos Refugiados. Algumas páginas da internet referem-se a data como "dia em que é celebrado", como podemos celebrar o fato de pessoas serem forçadas a saírem de seus países?

De acordo com o Dicionários Houaiss, os verbetes "refugiar" e "refúgio" possuem os seguintes significados:

No entanto, de acordo com a Convenção de 1951 relativa ao Estatuto dos Refugiados (de 1951), são refugiados as pessoas que se encontram fora do seu país por causa de fundado temor de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, opinião política ou participação em grupos sociais, e que não possa (ou não queira) voltar para casa. Posteriormente, definições mais amplas passaram a considerar como refugiados as pessoas obrigadas a deixar seu país devido a conflitos armados, violência generalizada e violação massiva dos direitos humanos(Fonte: UNHCR-Brasil)

A causa dos refugiados possui uma grande aliada e embaixadora: Angelina Jolie. O vídeo da campanha deste ano traz um texto curto, simples, mas visceral, no qual a atriz fala, em poucas palavras, o que é ser um refugiado:

"Todos os dias, milhares de pessoas precisam fugir da guerra, da perseguição e do terror. Aliás, uma pessoa em fuga já é um número grande. Uma família obrigada a fugir, é um número grande. Um menino que cresce em um campo de refugiados, é número grande. Um refugiado sem esperança, é número grande."

Link para o vídeo com legenda em espanhol: http://youtu.be/0y1LLNS_fRc


Na década de 80, a foto de uma refugiada na capa da National Geographic chamou a atenção do mundo: Sharbat Gula. Naquela época o Afeganistão era alvo constante de ataques russos, e muitas famílias afegãs refugiaram-se em países vizinhos. Quem não se lembra dos olhos verdes e assustados dessa menina que foi fotografada em um campo de refugiados no Paquistão?


Reencontrada em 2003 pelo mesmo profissional responsável pela foto histórica, o fotógrafo Steve McCurry, Sharbat, na época do reencontro com no máximo 30 anos, contou para a revista sua história: ficou órfã de pai e mãe por volta dos 6 anos, durante um bombardeio soviético que riscou do mapa o vilarejo em que morava. Sem nada mais a perder, ela e quatro irmãos foram levados pela avó ao Paquistão. Para alcançar o país vizinho, caminharam uma semana inteira, afligidos por tempestades de neve. Ao longo de quase dez anos, calcula-se, ela viveu num campo de refugiados. De volta ao Afeganistão do Talibã, em meados da década de 90, ela se casou. Seu marido trabalha numa padaria da cidade paquistanesa de Peshawar, próxima à fronteira afegã. Pelo trabalho, o rapaz recebe o equivalente a 1 dólar por dia. Vítima de asma, Sharbat não suporta o misto de calor e poluição que impregna o ar de Peshawar. Por isso, ela vive a maior parte do tempo na região montanhosa de Tora Bora, que serviu de esconderijo para centenas de terroristas da Al Qaeda e foi duramente castigada por bombardeios americanos no ano passado. Sharbat mora com suas três filhas – Robina, de 13 anos, Zahida, de 3, e Alia, de 1. Uma quarta criança morreu ainda bebê.


No Brasil, algumas cidades terão eventos que celebrarão a data com informação, afinal conhecimento é importante para que qualquer causa humanitária ganhe força. Entretanto, falta uma pergunta: o que cada um de nós pode fazer para amenizar essa situação? Parece-nos que tudo acontece muito distante, em outro país, outro continente. Não importa quantos quilômetros nos separam dos que necessitam de nossa ajuda. Se quisermos de fato ser um instrumento do bem, a palavra "distância" torna-se um incentivo às práticas de ajuda, esperança e amor.

Acesse Agência da ONU para Refugiados e informe-se como ajudar.

A humanidade agradece!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Uma partícula filosófica de Einstein

Amadurecendo com os fracassos



Muitos torcem o nariz quando o nome Harry Potter é mencionado por pura discriminação. Por favor, respeitam o bruxinho e seu universo, afinal trata-se de uma estória que aborda valores importantes para nossa sociedade: família, amizade e lealdade. Claro que muitos nem se ligam nesse aspectos, mas sim no quadribol, nas varinhas e palavras mágicas. No entanto, uma coisa é fato: esse menino de raio na testa revolucionou o universo literário, marcou a vida de muitas  pessoas e trouxe um grande aprendizado para sua autora-mãe J. K. Rowling. 
Durante o discurso na formatura da Classe 2008 da Universidade de Harvard, Rowling apresenta com clareza tudo o que a inspirou para compor muitas coisas contidas nos livros da saga, mas a contribuição mais importante foi quando salientou a importância do aprendizado com os fracassos.
O texto é longo mas vale - e muito - a pena ler cada palavra para perceber que o fracasso de hoje pode ser o prenúncio da vitória no amanhã.


"Presidente Faust, membros da Corporação Harvard e do Conselho de Administradores, membros do corpo docente, pais orgulhosos e, acima de tudo, formandos.
A primeira coisa que eu gostaria de dizer é ‘muito obrigado’. Não somente Harvard me deu uma honra extraordinária, mas as semanas de medo e náusea que eu tenho vivenciado ao pensar em fazer um discurso nesta cerimônia de formatura me fez perder peso. Uma situação em que só ganhei! Agora tudo o que eu tenho a fazer é respirar fundo, dar uma olhada nas bandeiras vermelhas e enganar a mim mesma, acreditando que estou na mais bem educada convenção Potter do mundo.
Fazer um discurso em uma cerimônia de formatura é uma grande responsabilidade; ou assim eu pensava até eu relembrar a minha própria formatura. O orador da cerimônia daquele dia foi a distinta filósofa britânica Baronesa Mary Warnock. Refletir sobre o seu discurso me ajudou enormemente a escrever esse aqui, porque percebi que eu não conseguia lembrar de uma única palavra que ela dissera. Essa descoberta libertadora me possibilitou continuar sem qualquer receio de que eu poderia influenciar vocês a inadvertidamente abandonar suas carreiras promissoras nos negócios, na justiça ou política para as delícias vertiginosas de se tornar um bruxo gay.
Estão vendo? Se tudo o que vocês se lembrarem nos próximos anos for a piada do “bruxo gay”, eu ainda saí à frente da Baronesa Mary Warnock. Objetivos alcançáveis: o primeiro passo para o aperfeiçoamento pessoal.
Na verdade, eu tenho procurado em minha mente e meu coração o que eu deveria dizer hoje a vocês. Perguntei a mim mesma, o que gostaria de ter sabido em minha própria formatura, e quais lições importantes eu aprendi nos 21 anos que se passaram entre aquele dia e este.
Surgiram-me duas respostas. Neste dia maravilhoso, quando estamos todos reunidos para celebrar vosso sucesso acadêmico, eu decidi falar com vocês sobre os benefícios do fracasso. E, como vocês estão no limite do que muitas vezes é chamado de ‘vida real’, eu quero exaltar a importância crucial da imaginação.
Essas escolhas podem parecer idealistas ou paradoxais, mas por favor me ouçam.
Olhando para trás, aos 21 anos de idade que eu tinha na formatura, é uma experiência um pouco desconfortável para a mulher de 42 anos a qual me tornei. Metade do tempo de minha vida, eu estava em um desequilíbrio preocupante entre a ambição que eu tinha para mim mesma, e o que aqueles mais próximos esperavam de mim.
Estava convencida de que a única coisa que eu queria fazer, sempre, era escrever romances. No entanto, meus pais, ambos os quais vieram de origens pobres e nenhum dos dois tinham ido à faculdade, achavam que a minha imaginação fértil era uma divertida loucura pessoal e que nunca poderia pagar uma hipoteca, ou garantir uma aposentadoria.
Eles tinham esperanças de que eu teria um diploma vocacional; eu queria estudar Literatura Inglesa. Um acordo foi feito e que, em retrospecto, não satisfez ninguém, e eu fui estudar Idiomas Modernos. Mal o carro dos meus pais dobrava a esquina no fim da rua e eu descartava Alemão e corria para os corredores de Literatura Clássica.
Não me lembro de ter contado aos meus pais que estava estudando Literatura Clássica; eles podem muito bem ter descoberto pela primeira vez no dia da formatura. De todos os assuntos desse planeta, acho que eles dificilmente poderiam indicar um menos útil do que Mitologia Grega, quando isso veio para assegurar as chaves para um banheiro executivo.
Eu gostaria de deixar claro, entre parênteses, que não culpo meus pais pelo ponto de vista deles. Existe uma data de validade em culpar seus pais por nos colocar na direção errada; o momento em que você é adulto o suficiente para tomar o controle, a responsabilidade recai sobre você. Além disso, eu não posso criticar meus pais por esperarem que eu nunca experimentasse a pobreza. Eles tinham sido pobres, e eu já fui pobre, e concordo completamente com eles de que esta não é uma experiência enobrecedora. A pobreza implica em medo, e estresse, e, algumas vezes, depressão; isso significa milhares de pequenas humilhações e dificuldades. Sair da pobreza por seus próprios esforços, é de fato algo para se orgulhar, mas a pobreza em si é romantizada apenas pelos tolos.
O que eu mais temia quando tinha a idade de vocês não era a pobreza, mas o fracasso.
Na sua idade, apesar de uma clara falta de motivação na Universidade, onde eu tinha gasto muito tempo escrevendo histórias em cafés, e pouquíssimo tempo assistindo palestras, eu tinha uma aptidão em passar nos exames e que, por anos, tinha sido a medida de sucesso na minha vida e na dos meus colegas.
Não sou tola o suficiente para supor que, por serem, jovens, talentosos e bem educados, vocês nunca passaram por dificuldades ou mágoas. O talento e a inteligência nunca imunizaram ninguém contra o capricho do Destino, e nem por um momento eu imaginei que todos aqui têm desfrutado de uma existência de contentamento e privilégios serenos.
No entanto, o fato de vocês estarem se graduando em Harvard sugere que não estão muito bem familiarizados com o fracasso. Vocês poderão ser conduzidos por um receio do fracasso tanto quanto por um desejo pelo sucesso. De fato, sua concepção de fracasso pode não estar muito longe da idéia de sucesso de uma pessoa comum, tão alto que vocês já voaram academicamente.
No fim das contas, todos precisamos decidir, por nós mesmos, aquilo que constitui o fracasso, mas o mundo é bastante ávido para lhe dar um conjunto de critérios, se você deixá-lo. Por isso acho justo dizer que por qualquer medida convencional, meros sete anos após o dia da minha formatura, eu tinha fracassado em escala épica. Um casamento de duração excepcionalmente curta, eu estava desempregada, era uma mãe solteira, e tão pobre quanto é possível ser na Grã-Bretanha moderna sem ser uma desabrigada. Os receios que meus pais tinham tido para mim, e que eu tinha tido para mim, ambos tinham acabado por acontecer, e de acordo com cada padrão normal, eu era a maior fracassada que conhecia.
Agora, eu não vou ficar aqui e lhes dizer que a frustração é divertida. Esse período da minha vida foi bem obscuro, e eu não tinha idéia de que ia acontecer aquilo que a imprensa tem, desde então, descrito como uma espécie de fim de conto de fadas. Eu não tinha idéia de quão longo era o túnel e, por muito tempo, qualquer luz em seu fim era mais esperança do que realidade.
Então por que eu falo sobre os benefícios do fracasso? Simplesmente porque fracasso significa se despir do que não é essencial. Eu parei de fingir a mim mesma que eu era diferente, e comecei a orientar toda a minha energia em terminar o único trabalho que importava para mim. Se eu realmente tivesse alcançado sucesso em qualquer outra coisa, eu poderia nunca ter encontrado a determinação para ter sucesso naquela área na qual eu verdadeiramente acreditava que pertencia. Eu estava em liberdade, porque o meu maior receio já tinha sido realizado, e eu ainda estava viva, e ainda tinha uma filha a quem eu adorava, e tinha uma velha máquina de escrever e uma grande idéia. Então o fundo do poço se tornou a base sólida sobre a qual eu reconstruí a minha vida.
Talvez vocês nunca falhem na escala que eu falhei, mas alguns fracassos na vida são inevitáveis. É impossível viver sem falhar em algo, ao menos que você viva de forma tão cautelosa que você pode não ter vivido de verdade – nesse caso, você falha por omissão.
O fracasso me deu uma segurança interna que eu nunca tinha atingido passando em exames. Ele também ensinou coisas sobre mim que eu não poderia ter aprendido de nenhuma outra forma. Descobri que tinha uma grande força de vontade e mais disciplina que suspeitava; também descobri que eu tinha amigos cujo valor estava realmente acima de rubis.
O conhecimento que você adquire sábia e fortemente a partir de uma derrota significa que você está, sempre, seguro de sua capacidade de sobreviver. Vocês nunca vão conhecer verdadeiramente a si mesmos, ou a força de seus relacionamentos, até que ambos tenham sido testados pela adversidade. Esse conhecimento é um verdadeiro dom, por isso que é adquirido arduamente, e tem significado para mim mais do que qualquer qualificação que já ganhei.
Se me dada uma máquina do tempo ou um Vira-Tempo, eu diria ao meu eu de 21 anos que a felicidade pessoal reside em saber que a vida não é uma lista de verificação de aquisições ou realizações. As suas qualificações, o seu currículo, não são a sua vida, embora vocês vão conhecer muitas pessoas da minha idade e mais velhas que confundem as duas coisas. A vida é difícil e complicada, e além do controle total de qualquer um, e a humildade de saber isso irá capacitar-lhes para sobreviver às suas inconstâncias.
Vocês poderiam pensar que eu escolhi meu segundo tema, a importância da imaginação, devido ao seu papel na reconstrução da minha vida, mas não é inteiramente por isso. Apesar de que eu defenderei o valor de contar histórias para dormir até meu último suspiro, eu tenho aprendido a valorizar a imaginação em um sentido muito mais amplo. A imaginação não é apenas a única capacidade humana para prever aquilo que não é, e, por conseguinte, a fonte de todas as invenções e inovações. Na sua capacidade argumentável mais transformadora e reveladora, é o poder que nos permite simpatizar com seres humanos cujas experiências nós nunca compartilhamos.
Uma das maiores experiências da minha vida antecedeu Harry Potter, apesar dela informar muito do que eu escrevi nesses livros em seguida. Essa revelação veio na forma de um dos meus primeiros empregos diurnos. Embora eu costumasse dar uma fugida para escrever histórias durante minha hora de almoço, eu paguei o aluguel, aos meus vinte e poucos anos, trabalhando no departamento de investigação na sede da Anistia Internacional, em Londres.
Lá, em meu pequeno escritório, li cartas escritas rapidamente contrabandeadas dos regimes totalitários por homens e mulheres que arriscaram serem presos ao informar o mundo exterior do que estava acontecendo com eles. Eu vi fotografias daqueles que tinham desaparecido sem deixar rastro, enviadas à Anistia por suas famílias e amigos desesperados. Eu li os testemunhos das vítimas de tortura, e vi fotos de seus ferimentos. Eu abri descrições escritas à mão de testemunhas oculares dos julgamentos e execuções sumárias, de seqüestros e estupros.
Muitos dos meus colegas de trabalho eram ex-presos políticos, pessoas que tinham sido deslocadas de suas casas, ou fugiram para o exílio, porque eles tiveram a audácia de pensar independentemente de seu governo. Os visitantes ao nosso escritório incluíam aqueles que tinham vindo para fornecer informações, ou tentar e descobrir o que havia acontecido àqueles que eles tinham sido obrigados a deixar para trás.
Nunca vou esquecer do africano, vítima de tortura, um jovem não mais velho do que eu era naquela época, que tinha se tornado mentalmente doente depois de tudo que ele tinha sofrido em sua terra natal. Ele tremia incontroladamente enquanto falava para uma câmera de vídeo sobre a brutalidade exercida contra ele. Ele era alguns centímetros mais alto do que eu, e parecia tão frágil quanto uma criança. Foi-me dada a tarefa de escoltá-lo à estação de metrô mais tarde, e esse homem cuja vida foi destroçada pela crueldade pegou a minha mão com sensível cortesia e me desejou um futuro de felicidade.
E enquanto eu viver vou lembrar de caminhar por um corredor vazio e, de repente, ouvir por detrás de uma porta fechada, um grito de pânico e horror como nunca ouvira antes. A porta se abriu, e a pesquisadora enfiou a cabeça par fora e disse para eu correr e preparar uma bebida quente para o jovem sentado com ela. Ela tinha acabado de lhe dar a notícia de que, em retaliação pela própria sinceridade do rapaz contra o regime de seu país, a mãe dele havia sido presa e executada.
Todos os dias da minha semana de trabalho no início dos meus 20 anos eu era lembrada de quão incrivelmente sortuda eu era por viver em um país com um governo eleito democraticamente, onde um representante legal e um julgamento público eram direito de todos.
Diariamente, eu via mais provas sobre como os males da humanidade irão infligir sobre os seus companheiros, para obter ou manter o poder. Eu comecei a ter pesadelos, literalmente pesadelos, acerca de algumas das coisas que vi, ouvi e li.
E ainda assim eu aprendi mais sobre a bondade humana na Anistia Internacional que eu nunca havia aprendido antes.
A Anistia mobiliza milhares de pessoas que nunca foram torturadas ou presas por suas crenças a agir em nome daqueles que já foram. O poder da empatia humana, que conduziu à ação coletiva, salva vidas e liberta prisioneiros. As pessoas comuns, cujo bem estar pessoal e segurança estão garantidos, juntam-se a um grande número para salvar pessoas que eles não conhecem e nunca conhecerão. Minha pequena participação nesse processo foi uma das experiências mais inspiradoras da minha vida.
Diferente de qualquer outra criatura nesse planeta, os seres humanos podem aprender e compreender sem terem experimentado. Eles podem pensar em si mesmos na mente de outras pessoas, se imaginar no lugar de outras pessoas.
Evidentemente, esse é um poder, como a minha marca de magia fictícia, que é moralmente neutra. Podemos usar esta habilidade tanto para manipular, ou controlar, como simplesmente para compreender ou simpatizar.
E muitos preferem não exercer suas imaginações de forma alguma. Eles optam por permanecer confortavelmente dentro dos limites de sua própria experiência, nunca se preocupando em perguntar como seria ter nascido diferente do que são. Eles podem se recusar a ouvir os gritos ou espreitar dentro das grades; eles podem fechar suas mentes e corações para qualquer sofrimento que não os toquem pessoalmente; eles podem se recusar a saber.
Eu poderia ser tentada a invejar pessoas que conseguem viver dessa maneira, exceto por achar que eles não têm menos pesadelos que eu. Escolher viver em espaços estreitos pode levar a uma forma de agorafobia (medo de lugares abertos), e que isso tem os seus próprios terrores. Eu acho que quem é intencionalmente sem imaginação vê mais monstros. Muitas vezes eles têm mais medo.
Além disso, aqueles que optam por não se simpatizar podem habilitar os verdadeiros monstros. Pois mesmo sem nunca cometermos um ato claro de maldade, nós colaboramos com isso através da nossa própria apatia.
Uma das muitas coisas que aprendi no fim do corredor de Literatura Clássica no qual eu me aventurei aos 18 anos, em busca de algo que eu não conseguia definir, foi isso, escrito pelo autor grego Plutarco: O que nós alcançamos internamente mudará a realidade exterior.
Essa é uma afirmação surpreendente e ainda comprovada milhares de vezes todos os dias de nossas vidas. Ela exprime, em parte, a nossa inevitável ligação com o mundo exterior, o fato de que nós tocamos as vidas de outras pessoas simplesmente por existirmos.
Mas o quão mais vocês estão, formandos de Harvard de 2008, destinados a tocar as vidas de outras pessoas? Sua inteligência, sua capacidade para o trabalho duro, a educação que vocês receberam e passaram, dão a vocês status único e responsabilidades únicas. Até a sua nacionalidade os destaca. A grande maioria de vocês pertence à única super potência remanescente do mundo. A maneira com que vocês votam, a maneira com que vivem, a forma com que protestam, a influência que têm sobre seu próprio governo, tem um impacto muito além de suas fronteiras. Esse é o seu privilégio e o seu fardo.
Se vocês escolherem usar seu status e influência para levantar suas vozes em nome daqueles que não têm voz; se optarem por identificarem-se não apenas com os poderosos, mas com aqueles que não têm poder; se vocês preservarem a capacidade de imaginar a si próprios na vida daqueles que não têm as suas vantagens, então não vão ser apenas as suas orgulhosas famílias que vão celebrar vossas existências, mas milhares e milhões de pessoas cuja realidade vocês têm ajudado a transformar para melhor. Nós não precisamos de magia para mudar o mundo, nós já carregamos todo o poder que precisamos dentro de nós mesmos: nós temos o poder de imaginar melhor.
Estou quase terminando. Eu tenho uma última expectativa para vocês, que é algo que eu já tinha aos 21 anos. Os amigos com quem me sentei no dia da formatura têm sido os meus amigos para a vida. Eles são os padrinhos dos meus filhos, as pessoas a quem eu tenho sido capaz de recorrer em momentos de dificuldades, os amigos que têm a gentileza de não me processarem quando usei seus nomes para os Comensais da Morte. Na nossa formatura, fomos ligados por uma enorme afeição, pelas nossas experiências compartilhadas de um tempo que nunca poderia voltar e, é claro, pelo conhecimento que temos guardado em certas evidências fotográficas que seriam extremamente valiosas se alguns de nós concorrêssemos a Primeiro Ministro.
Portanto, hoje eu posso lhes desejar nada melhor do que amizades parecidas. E amanhã, mesmo se vocês não lembrarem uma única palavra minha, espero que se lembrem aquelas de Seneca, outro desses romanos antigos que eu conheci quando fugi para o corredor de Literatura Clássica, em fuga de uma carreira promissora, em busca da antiga sabedoria:
Conforme um conto, assim é a vida: não o quão longa ela é, mas o quão boa, é o que importa.
Desejo a todos vidas muito boas.
Muito obrigada. "

domingo, 12 de junho de 2011

Namorar é um verbo eterno

Hoje é dia dos namorados. Dia de muita gente abraçar e beijar sem moderação como em todos os demais dias. Afinal, namorar é um verbo eterno conjugado no infinitivo, portanto pode ser celebrado qualquer dia, o dia inteiro, o ano inteiro.

Navegando na internet encontrei um texto muito legal da Martha Medeiros. Aliás, esta escritora tem um dom fantástico para expor tudo o que uma mulher sente quando o assunto é relacionamento. Fabulosa!


Dos ficantes aos namoridos


Se você é deste século, já sabe que há duas tribos que definem o que é um relacionamento moderno.

Uma é a tribo dos ficantes. O ficante é o cara que te namora por duas horas numa festa, se não tiver se inscrito no campeonato “Quem pega mais numa única noite”, quando então ele será seu ficante por bem menos tempo — dois minutos — e irá à procura de outra para bater o próprio recorde. É natural que garotos e garotas queiram conhecer pessoas, ter uma história, um romance, uma ficada, duas ficadas, três ficadas, quatro ficadas... Esquece, não acho natural coisa nenhuma. Considero um desperdício de energia.

Pegar sete caras. Pegar nove “mina”. A gente está falando de quê, de catadores de lixo? Pegar, pega-se uma caneta, um táxi, uma gripe. Não pessoas. Pegue-e-leve, pegue-e-largue, pegueeuse, pegue-e-chute, pegue-e-conte-para-os-amigos.

Pegar, cá pra nós, é um verbo meio cafajeste. Em vez de pegar, poderíamos adotar algum outro verbo menos frio. Porque, quando duas bocas se unem, nada é assim tão frio, na maioria das vezes esse “não estou nem aí” é jogo de cena. Vão todos para a balada fingindo que deixaram o coração em casa, mas deixaram nada. Deixaram a personalidade em casa, isso sim.

No entanto, quem pode contra o avanço (???) dos costumes e contra a vulgarização do vocabulário? Falando nisso, a segunda tribo a que me referia é a dos namoridos, a palavra mais medonha que já inventaram. Trata-se de um homem híbrido, transgênico.

Em tese, ele vale mais do que um namorado e menos que um marido. Assim que a relação começa, juntam-se os trapos e parte-se para um casamento informal, sem papel passado, sem compromisso de estabilidade, sem planos de uma velhice compartilhada — namoridos não foram escolhidos para serem parceiros de artrite, reumatismo e pressão alta, era só o que faltava.

Pois então. A idéia é boa e prática. Só que o índice de príncipes e princesas virando sapo é alta, não se evita o tédio conjugal (comum a qualquer tipo de acasalamento sob o mesmo teto) e pula-se uma etapa quentíssima, a melhor que há.

Trata-se do namoro, alguns já ouviram falar. É quando cada um mora na sua casa e tem rotinas distintas e poucos horários para se encontrar, e esse pouco ganha a importância de uma celebração.

Namoro é quando não se tem certeza absoluta de nada, a cada dia um segredo é revelado, brotam informações novas de onde menos se espera. De manhã, um silêncio inquietante. À tarde, um mal-entendido. À noite, um torpedo reconciliador e uma declaração de amor.

Namoro é teste, é amostra, é ensaio, e por isso a dedicação é intensa, a sedução é ininterrupta, os minutos são contados, os meses são comemorados, a vontade de surpreender não cessa — e é a única relação que dá o devido espaço para a saudade, que é fermento e afrodisíaco. Depois de passar os dias se vendo só de vez em quando, viajar para um fim de semana juntos vira o céu na Terra: nunca uma sexta-feira nasce tão aguardada, nunca uma segunda-feira é enfrentada com tanta leveza.

Namoro é como o disco “Sgt. Peppers”, dos Beatles: parece antigo e, no entanto, não há nada mais novo e revolucionário. O poeta Carlos Drummond de Andrade também é de outro tempo e é para sempre. É ele quem encerra esta crônica, dando-nos uma ordem para a vida: “Cumpra sua obrigação de namorar, sob pena de viver apenas na aparência. De ser o seu cadáver itinerante".

(Martha Medeiros)

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A verdadeira beleza de Audrey Hepburn





Ela foi princesa, Sabrina, Cinderela, bonequinha de luxo, herdeira, e, acima de tudo, foi um ser humano com consciência da importância de atos voltados à prática do amor e da caridade para com o próximo.
Dentre as maravilhosas contribuições que deixou eis uma sábia observação sobre os verdadeiros pilares da beleza humana:

''Para ter lábios atraentes, diga palavras doces; para ter olhos belos, procure ver o lado bom das pessoas; para ter um corpo esguio, divida sua comida com os famintos; para ter cabelos bonitos, deixe uma criança passar seus dedos por eles pelo menos uma vez por dia; para ter boa postura, caminhe com a certeza de que nunca andará sozinho; pessoas, muito mais que coisas, devem ser restauradas, revividas, resgatadas e redimidas; lembre-se que, se alguma vez precisar de uma mão amiga, você a encontrará no final do seu braço. 
Ao ficarmos mais velhos, descobrimos porque temos duas mãos, uma para ajudar a nós mesmos, a outra para ajudar o próximo; a beleza de uma mulher não está nas roupas que ela veste, nem no corpo que ela carrega, ou na forma como penteia o cabelo. A beleza de uma mulher deve ser vista nos seus olhos, porque esta é a porta para seu coração, o lugar onde o amor reside.''

Lindo, não?!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O sonho só acaba se você deixar



Sempre admirei a saga de Walt Disney (1901-1966), independente das teorias que criem a respeito dele. 
Ele tinha uma habilidade que poucos corajosos possuem: acreditava com toda força nos próprios sonhos. Sonhou, sonhou, sonhou, construiu um parque, quebrou a cara com esse parque mas decidiu continuar sonhando até que um dia o sonho virou realidade em outro parque. Muitos falam dos desenhos, mas o parque era o maior de todos os sonhos de Disney, e ele não viveu para ver a perfeição de seu sonho virar realidade. Mas com certeza ele não se importou com isso. O sonho era dele, mas era dele para os outros. Se os outros são felizes hoje por estarem no lugar mais sonhado do mundo, com certeza naquela época ele já se considerava feliz apenas por sonhar com essa felicidade.
Isso é o que importa: continuar sonhando, não importa o que aconteça. E sempre lembrar que o sonho precisa de ação para acontecer, mas que sonho sem amor pelo próximo não é sonho, mas sim pesadelo.
Eis um belo ensinamento deixado por esse grande sonhador:






E assim, depois de muito esperar, num dia como outro qualquer, decidi triunfar...

Decidi não esperar as oportunidades e sim, eu mesmo buscá-las.
Decidi ver cada problema como uma oportunidade de encontrar uma solução.
Decidi ver cada deserto como uma possibilidade de encontrar um oásis.
Decidi ver cada noite como um mistério a resolver.
Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz.
Naquele dia descobri que meu único rival não era mais que minhas próprias limitações e que enfrentá-las era a única e melhor forma de as superar.
Naquele dia, descobri que eu não era o melhor e que talvez eu nunca tivesse sido.
Deixei de me importar com quem ganha ou perde.
Agora me importa simplesmente saber melhor o que fazer.
Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima, e sim deixar de subir.
Aprendi que o melhor triunfo é poder chamar alguém de"amigo".
Descobri que o amor é mais que um simples estado de enamoramento, "o amor é uma filosofia de vida". 
Naquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados e passei a ser uma tênue luz no presente. 
Aprendi que de nada serve ser luz se não iluminar o caminho dos demais.
Naquele dia, decidi trocar tantas coisas...
Naquele dia, aprendi que os sonhos existem para tornar-se realidade.
E desde aquele dia já não durmo para descansar... simplesmente durmo para sonhar.

(Walt Elias Disney)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Queridinha do meu coração - Katherine Mansfield


[...] O que pode alguém fazer quando tem trinta anos e, virando a esquina de repente, é tomado por um sentimento de absoluta felicidade — felicidade absoluta! — como se tivesse engolido um brilhante pedaço daquele sol da tardinha e ele estivesse queimando o peito, irradiando um pequeno chuveiro de chispas para dentro de cada partícula do corpo, para cada ponta de dedo?

Não há meio de expressar isso sem parecer "bêbado e desvairado?" Ah! como a civilização é idiota! Para que termos um corpo, se somos obrigados a mantê-lo encerrado em uma caixa, como se fosse um violino raro, muito raro? [...] - Extraído do conto "Bliss"


O Twitter apresentou-me a essa fabulosa autora neozelandesa de contos, uma prova de que a internet quando utilizada de forma proveitosa pode gerar bons frutos. No meu caso, o fruto foi a leitura de contos belíssimos que tomaram o meu coração de uma forma que não consigo explicar.

Katherine Mansfield (1888-1923) é considerada a melhor contista da literatura inglesa.  
Bliss, o conto citado acima, solidificou sua carreira literária de tal forma que Virginia Woolf, sua grande admiradora, confessou em seu diário ter sido Katherine Mansfield a única escritora por cujo talento se sentia ameaçada. Aindasegundo um biógrafo da escritora britânica, Virginia Woolf, depois de ler Bliss, teria tomado um porre e gritado num bar: “Eu morro de inveja dessa mulher”. Inveja branca? Quem sabe. A questão é que o talento em Mansfield é inegável e a sede pela descoberta de contos de sua autoria um leme que me conduz no navegar da internet.


Espanca-me com teus versos

O nome dela era Flor Bela Lobo. Nasceu em Vila Viçosa, Portugal, no dia 8 de dezembro de 1894 e deixou-nos em Foz do Douro, Portugal, em 8 de dezembro de 1930.  
Quando descobriu-se poetisa optou por transformar-se em Florbela Espanca para brindar o mundo com versos únicos. 
Precursora do movimento feminista em Portugal vivia a suspirar por um certo Prince Charmant, e inspirada por esses suspiros escreveu muitos poemas.
Gostava de pensar sobre si e os sentimentos que tomavam sua alma de tal forma que sentia-se sufocada. Então, respirava por palavras, vírgulas, pontos, estrofes. Alguns poemas são verdadeiros desabafos e o poema abaixo talvez seja o maior de todos eles.





Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!



Amando a própria imperfeição


Sempre culpamos os outros pelas cobranças e não observamos que nós somos os nossos maiores cobradores. Com nossas próprias cobranças vem o medo, a ansiedade, a depressão. Um sinal alarmante de que levamos a vida tão a sério que esquecemos de brincar, de sorrir, de dançar na frente do espelho. Ou seja, simplesmente deixamos a vida de lado em nome de um cotidiano enlouquecedor. 
Nos últimos dois meses tenho dedicado tempo a coisas muito importantes, dentre elas uma tem feito um grande bem para minha auto-estima: sorrir pra mim mesma enquanto me maquio. Com isso ganho muitos sorrisos de volta, mas sorrisos meus. Os sorrisos dos outros ficaram mais visíveis com essa prática. Aliás, fiquei mais sensível para detectar sorrisos verdadeiros e falsos depois que comecei a sorrir verdadeiramente para mim mesma. Que interessante, não?!
Cristo ensinou: "Ama o teu próximo como a ti mesmo". Aí fica o questionamento: você tem amor próprio? Amor próprio não é egoísmo, mas sim a atitude de olhar para si mesmo e amar como se vê. Se a resposta é não, como você pode amar o próximo com verdade? Chega a ser hipocrisia defender o amor pelo outro quando se odeia o próprio reflexo no espelho.
Ame o reflexo no espelho. Depois ame o reflexo do teu oposto ou da tua similaridade que é o outro ser humano.
Ame-se mais. Cobre-se menos. Seja menos perfeito. Não tenha medo de errar, mas errando aprenda com o erro e praticando o mesmo erro novamente não se culpe. Lembre-se: ninguém é perfeito. Nem você com suas falhas, muito menos quem te aponta o dedo da condenação.
Não espere que fiquem do teu lado. Fique você do teu lado, em tua companhia.
 Apóie-se. Congratule-se. Auto-critique-se, mas sem mutilar a tua alma.
Afinal, ninguém é perfeito. Nem você. Muito menos eu. E eu estou aprendendo a não me amar menos por isso.


(Nina Oliver) -- @nina_oliver

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Obrigada



Eu estava quieta no meu canto...

... aí aparece a mestra:


O jeito agora é pensar (e muito) a respeito, porque não tem outro jeito. Quando uma pergunta provoca um incômodo filosófico em mim, eu não tenho mais sossego. 
E, sinceramente, eu amo quando isso acontece.

O amor, o mel e um pote de vidro humano


Pitágoras de Samos (580 a.C. - 497 a.C.) foi um filósofo e matemático grego. É considerado um dos grandes matemáticos da Antiguidade.