quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Exílio

Hoje o dia amanheceu com poucas palavras, mas muitos pensamentos. Os olhos não são mais os mesmos, muito menos as pessoas. Elas mudam constantemente, assim como eu.
A dor aperta o peito, sufoca a garganta e a estranheza toma conta da minha alma. Já conheço esses sintomas: meu eu pede pelo afastamento.
Muitos expulsam-me da Pólis. Sairei, mas voluntariamente. Vivo o momento certo para um exílio voluntário.
Vou ali, exilar-me em mim mesma, correr meus campos internos, admirar minhas próprias paisagens, conviver com meus cavalos de sagitário e respirar. Sim, preciso respirar, não me basta inspirar e expirar, pois o ar não entra, muito menos sai.
Até a volta.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O samba queima



Lá se vão as fantasias.
Mas o samba 
fica intacto 
e imortal. 
Eis algo 
que nem o fogo consome: 
a certeza de um legado histórico-cultural.
Viva o samba!
Eterno tamborim
Bate forte no meu peito
e emociona assim...
Bateria bate
Arrebenta meu coração
O samba é muito maior
do que um simples barracão

(Nina Oliver)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Meu Walden

Ilustração de capa da primeira edição da obra "Walden - A vida nos bosques" de Henry David Thoreau

O campo mora em mim, apesar de eu nunca ter vivido no campo, nem ter cheirado seu perfume verde, muito menos sentido sua paz.
O campo chama meu nome. Sabe até meu pseudônimo. Não adianta. Ele me conhece por completo, de dentro para fora. Sabe o que se passa na minha alma.
Quero correr pelos campos, seja em meus pés ou pelas patas sagradas de um cavalo.
Quero ser livre. Quero ser o campo. Campo serei. Um dia. Vários dias. Eternamente.

(Nina Oliver)

Eu me guardo

Medrosos ligam, não identificados, no intuito de abalar meu dia. Não permito. As portas dos meus ouvidos estão fechadas. Só entram em meus labirintos auditivos o que eu desejar. E eu não os desejo.
Tenho identidade. Tenho vontade. Só ouço o que quero. Só guardo para mim o que é meu. Não os guardo, não são meus.
Eu sou minha. Eu me guardo para mim. Eis a verdade!

sábado, 5 de fevereiro de 2011

O amor platônico de Hilda Hilst

(...)

Ama-me. 
É tempo ainda. 
Interroga-me. 
E eu te direi que o nosso tempo é agora. 
Esplêndida avidez, vasta ternura 
Porque é mais vasto o sonho que elabora 
Há tanto tempo sua própria tessitura. 
Ama-me. 
Embora eu te pareça 
Demasiado intensa. 
E de aspereza. 
E transitória se tu me repensas. 

E tu, lúcido, fazedor da palavra, 
Inconsentido, nítido 

Nós dois passamos porque assim é sempre 
É singular e raro este tempo inventivo 
Circundando a palavra. 
Trevo escuro 
Desmemoriado, coincidido e ardente 
No meu tempo de vida tão maduro. 

Sorrio quando penso 
Em que lugar da sala 
Guardarás o meu verso. 
Distanciado dos teus livros políticos? 
Na primeira gaveta 
Mais próxima à janela? 
Tu sorris quando lês 
Ou te cansas de ver 
Tamanha perdição 
Amorável centelha 
No meu rosto maduro? 

E te pareço bela 
Ou apenas te pareço 
Mais poeta talvez 
E menos séria? 
O que pensa o homem 
Do poeta? Que não há verdade 
Na minha embriaguez 
E que me preferes 
Amiga mais pacífica 
E menos ventura? 

Que é de todo impossível 
Guardar na tua sala 
Vestígio passional 
Da minha linguagem? 


Eu te pareço louca? 
Eu te pareço pura? 
Eu te pareço moça? 
Ou é mesmo verdade 
Que nunca me soubeste?

A memória de nós. É mais. É como um sopro 
De fogo, é fraterno e leal, é ardoroso 
É como se a despedida se fizesse o gozo 
De saber 
Que há no teu todo e no meu, um espaço 
Oloroso, onde não vive o adeus. 

[Júbilo,Memória, Noviciado da Paixão - Hilda Hilst] 

Um menino e um violão

Um menino e um violão. Parece algo simples, mas não é. A música está dentro dele, toca vibrante sem instrumentos. Ele é o instrumento.

Clave de sol. 
Clave de fá. 
Compasso. 
Sustenido. 
Bemol.
Allegro. 
Moderado.
Não é partitura. Tratam-se de seus próprios adjetivos. 

Ele é a música. A música da própria vida. 

Com a batuta na mão rege seu destino e tudo o que ele mais quer é que sua jornada seja feita das melhores notas musicais. 

É o compositor de uma rapsódia chamada vida própria e ela se define em apenas uma coisa: amor pela música.

Ele continua sendo instrumento. A rapsódia mora nele. Ele é a rapsódia de si mesmo. É a própria música nele. 

É divino. 
Prodígio.
Maestro. 
Vencedor. 
Músico. 
Livre.

A música mora nele. Mas nada é complexo. Trata-se apenas de um menino e um violão.

Um menino e um rio

Nada demais. É apenas um menino e um rio. Ambos pequenos e mesmo assim tão grandes. De frente um para o outro traçam uma conversa sincera cujas palavras não falam. São desnecessárias.
Enquanto o rio corre, o menino permanece imóvel hipnotizado à espera de algo. Talvez seja um peixe, um pássaro ou simplesmente um vento. Quer estar ali, o rio é seu amigo, confidente, guarda todos os seus segredos, mesmo que nada conte.
O vento sopra, os cabelos se movimentam, mas o resto do menino permanece parado. O máximo que se move e expande é o pensamento. Pensa na vida, nos colegas da escola, na menina da rua, no doce da vovó e no afago do avô. São muitos pensamentos, apesar da pouca experiência. Quer abraçar o mundo com os sonhos, por isso permanece imóvel para que nada se perca, nem mesmo a paisagem.
São um só, ele e o rio. Univitelinos de tão parecidos. Siameses de tanta união. O rio não vive sem a visita dele. A ausência sempre é sentida, muitos juram que o rio corre mais lento e triste quando o menino não vem. E acredite, tem dias que ele não vem, mesmo não se imaginando sem o rio em sua vida. Talvez já se prepare para a vida adulta e o êxodo que o espera. Ele irá, e o rio irá com ele. O rio ficará, mesmo que sem ele. Tem muitos outros para lhe fazer companhia, mas só aquele menino o entende. E só o rio entende o que se passa dentro do menino.

          Mas é só um menino e um rio. Não é nada demais. O que de extraordinário poderia existir nessa constatação? É apenas um pequeno que corre e um menor ainda que permanece. Tão simples, mas quem disse que o simples foi feito para ser facilmente compreendido? Aquela paisagem foi feita para incomodar. Ai de quem não se incomode. Ai de quem não se perturbe.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Filosofar-drops em uma sexta-feira de nuvens

Diz-me quem tu segues, que eu te direi quem és.

Sociedade dos poetas vivos em mim

O mestre entra na sala assobiando Tchaikovsky e então os alunos nunca mais foram os mesmos. Muito menos eu... Minha vida mudou completamente depois que Henry David Thoreau entrou em minha vida trazendo os bosques sublimes e poéticos de Walden.


Eis o famoso trecho:


[...] Fui para os bosques porque pretendia viver deliberadamente,
defrontar-me apenas com os fatos essenciais da vida,
e ver se podia aprender o que tinha a me ensinar,
em vez de descobrir à hora da morte que não tinha vivido. [...]"
(Henry David Thoreau - WALDEN)


E os anos se passaram. Os poetas continuam mortos, no sepulcro. No entanto a sociedade continua. É a sociedade dos poetas vivos em mim.


Carpe diem!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

T.S. Eliot

O fim de toda nossa busca será chegarmos onde começamos e ver o lugar pela primeira vez.

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Numa terra de fugitivos aquele que anda na direção contrária parece estar fugindo.’

Olhando para o mundo e lançando o meu filosofar-drops

Somos o que do universo captamos com nossos olhos.

Confessando um medo antigo

As vezes sinto um medo antigo, quase etéreo e incompreensível, de escrever.... Sinto como se a fogueira da Santa (?) Inquisição esperasse por mim no ponto final do último parágrafo. Que assim seja. Melhor arder na verdade sincera de minha palavras escritas do que no medo eterno de não ser escritora.

Olhando para o mundo e lançando meu filosofar

O homem é o resultado de uma eterna busca por si mesmo. Como a busca é eterna o resultado nunca é permanente, e assim o homem segue a vida, sempre em mudança, para melhor adaptar-se a si mesmo.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O que vejo quando olho para o mundo - Diálogo 1

- Uma vez lançada sua pergunta pessoal à você mesmo, cuja resposta você não sabe, o universo escutará o que queres saber e poderá oferecer uma resposta. Cuidado. Nem sempre estamos prontos para ouvir o que o universo tem a dizer, e sempre que ele diz temos que acatar o dito como nossa verdade. - disse o sábio.


- Mas o universo sabe quem eu sou? - indagou o iniciado.


- Você sabe quem você é? - questionou o sábio.


- Não sei. Acredito que não. - respondeu.


- Acredite, quando você tiver certeza de quem você é, o universo deixará de dar respostas. Você já estará pronto para lidar com tudo, pois o mais difícil você já sabe. Pense no universo como um grande amigo e conselheiro que estava apenas lhe ajudando em uma tarefa. E como ele é seu amigo, com certeza não lhe quer mal algum.


- Obrigada pela lição, mestre.


- De nada. Fico feliz em ensinar.


- E eu, em aprender.

Ser uma escritora que flui

Um grande escritor um dia disse que devemos ser como um rio que flui. Mas nem todo rio flui. Alguns estão presos pelas barragens humanas, na contenção imposta pela modernidade que insiste em manter morto e preso tudo que nasceu para ser vivo e livre.
Ser livre é algo que pouquíssimos rios são. Só o rio de sangue corre livremente nas veias, e mesmo assim ainda encontra barreiras.
Estou aqui pensando, e tudo o que penso é que adoro ser esse rio furioso e livre de escrita que flui dentro de mim. Porque somente quando escrevo que me sinto, de fato, livre. O resto é prisão, contenção e caos moderno.
Cavalos cavalgam livres à beira do rio de palavras que escrevo. Talvez nem cavalos sejam, são livres demais para terem um nome, uma denominação. São livres, e assim serão por todo sempre.
Talvez seja um sonho sagitariano meu, correr livre com a parte livre em mim para libertar a que presa em mim vive. Mas isso é apenas um devaneio de alguém que passa a maior parte do tempo pensando em aglomerados de estrelas, em amigos leais e árvores com sombras protetoras. Porque disso é feita a minha essência, e dela brotam palavras que escrevo, mesmo que temerosa e insegura.
Escrever é a minha maior aventura. Escrever é a minha vida. Minha missão. E enquanto escrevo, consigo fluir para onde nenhum rio flui, pois todos estão presos apesar de correrem. Mas eu que escrevo, enquanto escrevo sou livre. Quero escrever sempre!