sábado, 5 de fevereiro de 2011

Um menino e um rio

Nada demais. É apenas um menino e um rio. Ambos pequenos e mesmo assim tão grandes. De frente um para o outro traçam uma conversa sincera cujas palavras não falam. São desnecessárias.
Enquanto o rio corre, o menino permanece imóvel hipnotizado à espera de algo. Talvez seja um peixe, um pássaro ou simplesmente um vento. Quer estar ali, o rio é seu amigo, confidente, guarda todos os seus segredos, mesmo que nada conte.
O vento sopra, os cabelos se movimentam, mas o resto do menino permanece parado. O máximo que se move e expande é o pensamento. Pensa na vida, nos colegas da escola, na menina da rua, no doce da vovó e no afago do avô. São muitos pensamentos, apesar da pouca experiência. Quer abraçar o mundo com os sonhos, por isso permanece imóvel para que nada se perca, nem mesmo a paisagem.
São um só, ele e o rio. Univitelinos de tão parecidos. Siameses de tanta união. O rio não vive sem a visita dele. A ausência sempre é sentida, muitos juram que o rio corre mais lento e triste quando o menino não vem. E acredite, tem dias que ele não vem, mesmo não se imaginando sem o rio em sua vida. Talvez já se prepare para a vida adulta e o êxodo que o espera. Ele irá, e o rio irá com ele. O rio ficará, mesmo que sem ele. Tem muitos outros para lhe fazer companhia, mas só aquele menino o entende. E só o rio entende o que se passa dentro do menino.

          Mas é só um menino e um rio. Não é nada demais. O que de extraordinário poderia existir nessa constatação? É apenas um pequeno que corre e um menor ainda que permanece. Tão simples, mas quem disse que o simples foi feito para ser facilmente compreendido? Aquela paisagem foi feita para incomodar. Ai de quem não se incomode. Ai de quem não se perturbe.

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