terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sinto-me viva

Meus mestres estão nos livros cujas páginas são reais e virtuais,  em memórias esquecidas que lembro enquanto digito, rabisco, escrevo e penso. É um momento de ser o que sou.
Cerco-me deles. São meus melhores conselheiros. Mas se conselho fosse bom... eles não o teriam escrito. É muito mais uma oportunidade de reflexão se vista de uma certa perspectiva. Eram sábios demais para se dar ao desperdício da pena em conselhos oferecidos. Tinham o que ensinar, e não palpitar. Uma prática em extinção, infelizmente.
Da amizade com Platão já não sei mais contabilizar os anos. Nossos diálogos são muito reais e inteligíveis, latentes e superficiais. Palavras eternas que fazem minha imaginação seguir um curso incapaz na compreensão do melhor dos navegadores enquanto harmoniza o sextante nas incontáveis estrelas.
Ao encontrar o tempo perdido de Proust, vislumbrei a mim mesma e o menino que tanto amo. Um amor de mãe que se dedica a cada dia para ele tenha ainda mais vida vivida e deixe de ser um mero projetar de uma imaginação que por muitas vezes – ainda bem! – não me permite dormir, relaxar, repousar. Sou tão feliz por escrevê-lo.
Parece-me que sigo o traçado de pensamentos já existentes em mim e no universo, e a maior parte do tempo sinto-me burra, tola e imatura diante de tão profundos conhecimentos. Quero apenas um pó dessa sabedoria. Eu, uma mera iniciante. E que bom é iniciar.
Espero poder acabar. Ou melhor, espero poder continuar o que comecei. Pois o começo do início sempre me é incerto e a chegada do fim é uma incógnita. Só o caminho é divino. Há harmonia nas curvas e desencontros que vivi. Isso é belo!
Que felicidade é viver o caminho que traço no presente. Já não quero mais perder-me no caminho que já percorri. Sigo de hoje para fazer o amanhã. Um dia por sua vez. Assim vivo caminhando. Assim sigo escrevendo.
Penso, escrevo. Logo, sinto-me viva. E isso é muito melhor do que meramente existir. Desculpe Descartes, mas isso é a mais pura verdade. Pelo menos é a minha verdade, e ela me libertou.

(Nina Oliver)

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